Hoje, corajoso leitor, vou abrir as cortinas empoeiradas do meu porão criativo para revelar, passo a passo, como um conto nasce — ou melhor, como ele rasteja para fora das sombras, babando ideias e soluçando incoerências.
Tudo começou com um sussurro vindo de um edital de concurso. Um tema imposto, como um pacto assinado sem ler as letras miúdas. Aceitei. (Afinal, quem precisa de paz de espírito?)
A primeira sinopse brotou num surto no celular, digitada com os polegares trêmulos no meio da madrugada. Não corrigi os erros de digitação. Eles são relíquias do caos original. Deixei-os lá, como fósseis de um pensamento primitivo — e talvez bêbado.
Depois veio a fase da dissecação: abri o texto em tópicos, dei títulos provisórios (que mais pareciam nomes de feitiços falhados) e fui enxertando ou amputando ideias com a precisão de um cirurgião sonâmbulo.
Na penúltima etapa, escrevi tudo de uma vez, sem freio, sem pudor, sem o menor compromisso com a sanidade ou gramática. Um verdadeiro ritual de possessão literária.
O texto final — aquele que talvez faça algum sentido — ficará para outro post. Por enquanto, fiquem com as entranhas expostas do processo. E cuidado ao ler à noite. Algumas ideias ainda se mexem.
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Esboço