domingo, 30 de março de 2025

Como se invoca um conto (ou: meu processo criativo em cinco estágios de loucura)

Hoje, corajoso leitor, vou abrir as cortinas empoeiradas do meu porão criativo para revelar, passo a passo, como um conto nasce — ou melhor, como ele rasteja para fora das sombras, babando ideias e soluçando incoerências.

Tudo começou com um sussurro vindo de um edital de concurso. Um tema imposto, como um pacto assinado sem ler as letras miúdas. Aceitei. (Afinal, quem precisa de paz de espírito?)

A primeira sinopse brotou num surto no celular, digitada com os polegares trêmulos no meio da madrugada. Não corrigi os erros de digitação. Eles são relíquias do caos original. Deixei-os lá, como fósseis de um pensamento primitivo — e talvez bêbado.

Depois veio a fase da dissecação: abri o texto em tópicos, dei títulos provisórios (que mais pareciam nomes de feitiços falhados) e fui enxertando ou amputando ideias com a precisão de um cirurgião sonâmbulo.

Na penúltima etapa, escrevi tudo de uma vez, sem freio, sem pudor, sem o menor compromisso com a sanidade ou gramática. Um verdadeiro ritual de possessão literária.

O texto final — aquele que talvez faça algum sentido — ficará para outro post. Por enquanto, fiquem com as entranhas expostas do processo. E cuidado ao ler à noite. Algumas ideias ainda se mexem.

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Esboço

sexta-feira, 28 de março de 2025

Meu processo criativo

Nos recônditos insondáveis de minha mente febril, reside um impulso irrefreável: escrever (mas nem tanto). Não se trata meramente de um passatempo, mas de um ritual quase profano, no qual invoco imagens, suspiros e horrores de uma dimensão inominável. Quando rabisco minhas histórias, por um instante ilusório, sinto-me liberto das correntes vulgares da realidade, como se pudesse espiar por entre os véus da existência e tocar, com dedos trêmulos, a própria tessitura do divino. O que sinto ao escrever é análogo àquele instante primordial em que Adão, ainda na aurora da criação, percebeu o peso e a glória de ter sido moldado à semelhança de seu Criador—antes de descobrir que o paraíso, assim como a sanidade, é transitório.  

Minha predileção pelo sobrenatural não se dá por acaso. A previsibilidade da realidade me exaspera—esse eterno ciclo de dias medíocres, onde o maior mistério é decidir entre café ou capuccino. Em vez disso, deleito-me com os espaços vazios, os sussurros que não têm fonte e os vultos que espreitam na penumbra. Prefiro narrativas onde a verdade se dissolve como névoa e onde o narrador não é um guia confiável, mas um sobrevivente surrado, um lunático murmurando sua história entre soluços, ou um mero recipiente de uma carta amareladas. Quero que o leitor, ao terminar minha história, não tenha certeza de nada—exceto da inquietante possibilidade de que tudo pode ser verdade.  

quarta-feira, 26 de março de 2025

Análise: "Notas sobre como escrever ficção estranha" de HP Lovecraft

H.P. Lovecraft, o mestre das trevas literárias, compartilha sua filosofia tortuosa de como tecer histórias estranhas, uma jornada sombria que se afasta da luz do entendimento comum e se enfia nas sombras do desconhecido. Ele mergulha de cabeça no abismo da ficção de horror, onde criaturas indescritíveis e o medo cósmico governam, e revela o processo perturbador e fascinante que segue para criar essas narrativas que arrepiam até os ossos. Prepare-se, caro leitor, pois aqui está o passo a passo de como ele invoca os terrores mais profundos e as mais bizarras criações de sua mente, um ritual tão meticuloso quanto macabro:

 

terça-feira, 25 de março de 2025

Rito de início

Post inaugural. Ousadia vã: tentei abrasileirar O Corvo de Poe. Fracassei com estilo, espero.


O Corvo e a Noite

Numa noite fria e escura, enquanto o mundo adormecia,
Eu vagava entre os livros, onde a mente se perdia,
Mas eis que um ruído estranho rompe o torpor da solidão,
Um bater de asas negras — sonho? Ou maldição?

Levantei-me, trêmulo e pálido, fitando o vão sombrio,
E lá, sobre a porta, como um espectro frio,
Vejo a ave funerária — corvo negro e desalmado,
Com olhar de quem conhece o que é sofrer calado.

"Que buscas na minha noite? Que mistério em ti se faz?"
E a ave, como sentença, apenas disse: "Nunca mais."

Ah, palavra amarga e fria! Gume cruel do destino,
Que corta o peito em sombras como lâmina do divino!
"Não há trégua para a dor? Não há cura para amar?"
Mas o corvo, impassível, volta a murmurar:

"Nunca mais!" — disse ao vento, como um triste adeus final,
E deixou-me ali sozinho, prisioneiro do meu mal.

Ainda o vejo sobre a porta, com seu peso de agonia,
Como a morte que vigia a última luz do dia.