quarta-feira, 23 de abril de 2025

Análise: Adeus, Meus Sonhos - Álvares de Azevedo ou o Gótico Emo Original

 Agora vocês vão saber porque eu me identifiquei tanto com Álvarez de Azevedo nos idos dos meus 17 anos, não que eu fosse emo, não que eu tenha alguma coisa contra eles, mas hoje eu tenho vergonha de mim mesmo.

Então, prepare seu café mais forte, apague a luz do quarto e coloque a minha trilha sonora "Alternativa" do Spotify: vamos mergulhar nesse suspiro literário de Álvares de Azevedo, o poeta que conseguiria transformar até um parque de diversões em um velório elegante.

🕯️ Verso por verso: adeus com gosto de luto

"Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!"
Logo de cara, ele já chega com o drama digno de final de temporada. Nada de sutileza. O sujeito não está apenas triste: ele está morrendo — e chorando enquanto isso. Provavelmente se cobrindo na frente do sofá com uma camisa largona.

"Não levo da existência uma saudade!"
Veja bem, nem pra fingir que teve um momento feliz. É como aquele amigo que termina um relacionamento e diz: “nem sei por que tentei”. Aqui, Álvares descarta a vida inteira como quem joga fora um presente de aniversário da tia-avó.

"E tanta vida que meu peito enchia / Morreu na minha triste mocidade!"
O peito era cheio de vida, mas virou um cemitério precoce. A mocidade — que em tese seria palco de paixões, bailes e alguma acne — foi o velório dos sonhos. E o Álvares? Sempre o convidado mais bem vestido da tragédia.

"Misérrimo! votei meus pobres dias / À sina doida de um amor sem fruto..."
Aqui o poeta se autoproclama miserável, o que já nos deixa tranquilos, porque ele está ciente do próprio drama. Amar sem colher nada em troca? Quem nunca, né? Ele só foi o primeiro a poetizar a friendzone com elegância gótica.

"E minh’alma na treva agora dorme / Como um olhar que a morte envolve em luto."
Essa é a parte em que a alma entra no modo "hibernação nas trevas". E o olhar? Vestido de preto, naturalmente. Álvares de Azevedo sempre foi bom em transformar o banal em tragédia — se fosse vivo hoje, ele escreveria tweets letais de madrugada.

"Que me resta, meu Deus?!..."
O grito ao céu é clássico: quando tudo dá errado, até o poeta precisa de um “Ctrl+Alt+Deus”.

"...morra comigo / A estrela de meus cândidos amores,"
Não basta morrer. Ele quer levar junto até a estrela mais pura do amor — que é um jeito poético de dizer: se eu não for feliz, ninguém será.

"Já que não levo no meu peito morto / Um punhado sequer de murchas flores!"
Nem flor murcha sobrou pra simbolizar o que passou. É o fundo do poço emocional decorado com velas, poeira e um cheiro vago de desilusão. Ele tá dizendo que com 21 anos, nunca amou! Qualquer semelhança é pura coincidência.

🕸️ Moral do poema?

Não espere que a vida seja gentil. Espere que ela escreva versos como esses, se possível com tinta escura, veludo e uma leve febre romântica. Álvares de Azevedo não queria só amar — ele queria morrer disso. E conseguiu nos deixar uma herança valiosa: o prazer estético da desgraça bem escrita.

A propósito, vou escrever uma carta pra ele logo logo.

 “leia com moderação — efeitos colaterais incluem saudade de algo que você nunca viveu.”

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