segunda-feira, 21 de abril de 2025

Relato onírico 001: Canibais no Mangue e a Catedral do Delírio

Um Mausoléu Para Meus Sonhos (e Outras Assombrações Pessoais)



Decidi fundar neste blog um mausoléu para os meus sonhos mortos. Aqui, pretendo enterrá-los com a devida pompa fúnebre — talvez até jogando umas flores de vez em quando, na esperança tola de que alguma essência se desprenda dos cadáveres oníricos e possa servir de combustível para meus contos. Ou, quem sabe, só pra não enlouquecer sozinho. (Dizem que escrever é mais barato que terapia, né?)

E, para inaugurar esta sessão necrológica do subconsciente, trago o relato de um dos meus devaneios mais recentes — uma pequena odisseia do absurdo, nascida entre o REM e o reino das trevas:

Estávamos — eu e dois amigos cuja existência real é tão concreta quanto fumaça — num barco de pesca grandão, meio velho, meio amaldiçoado, que foi dar de cara com um manguezal soturno. Imagine raízes aéreas retorcidas como mãos esqueléticas tentando puxar a alma do rio, uma névoa espessa cobrindo tudo feito cobertor mofado, e uma dúzia de casebres abandonados equilibrando-se precariamente sobre estacas magrelas, como se estivessem bêbados e prestes a desabar. Era o cenário perfeito para um massacre ritual ou, no mínimo, um desses cenários que mais parecia ter saído das histórias de Spectro da revista Kripta dos anos 70-80.

Sem aviso prévio (porque sonhos nunca mandam sinal de fumaça), um bando de índios canibais surgiu do nada e atacou o barco. Um dos meus amigos imaginários foi sequestrado — espero que tenham sido gentis — enquanto eu e o outro pulamos na água como dois ratos em pânico. A água? Negra, espessa, com o charme de um caldo de esgoto misturado a areia movediça. Um verdadeiro spa demoníaco.

Milagrosamente (ou por conveniência narrativa), chegamos à margem. E lá, no meio do caos, encontramos abrigo em uma igreja — mas não qualquer igreja! Era uma catedral barroca perdida no mangue, decorada como se Aleijadinho tivesse passado por ali de férias e decidido fazer uma última obra-prima para os condenados.

E foi assim que terminou meu sonho: entre o pavor e o sagrado, entre a lama e o ouro, entre o canibalismo e a fé barroca. Freud ou Jung provavelmente teriam um AVC tentando interpretar isso.

Mas cá estou eu, sobrevivente dessa travessia noturna, pronto para relatar mais incursões ao meu inconsciente — esse lugar onde até o diabo perderia o rumo e pediria um mapa, deixando ainda uma última dúvida no ar:

"Só me resta saber agora: quem foi que sobreviveu... o Id ou o Ego?"



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