Numa dessas noites insones em que a realidade perde a cor e a internet vira um labirinto de promessas literárias, tropecei — felizmente, não em uma alma penada — no site Seleções Literárias. Um verdadeiro relicário para escribas como eu: apaixonados pela escrita, ligeiramente perturbados e com tendências a ver sombras onde há apenas cortinas mal fechadas.
Foi lá que avistei, cintilando como um farol no nevoeiro do submundo editorial, o concurso “Caronte”, promovido pela sempre provocadora Medusa Editorial. O tema? Uma releitura da travessia final — aquela que todos nós faremos um dia (mas com sorte, não tão cedo). A proposta é simples e deliciosamente macabra:
Caronte, o barqueiro dos mortos, aquele que cobra uma moedinha para te dar um rolê one-way pelo rio Estige, pode estar de folga do remo. E se, em vez de barco, fosse um trem enferrujado cruzando o deserto dos esquecidos? Ou um táxi silencioso que só aparece quando já não se respira mais? Um drone funerário? Uma esteira rolante de shopping? A travessia pode ser tudo — menos trivial.
Essa é, honestamente, o tipo de antologia que me faz arregalar os olhos feito um gato em biblioteca assombrada. E como não poderia ser diferente, já tenho uma ideia fermentando na escuridão do meu cérebro — algo sombrio, inusitado e, com sorte, levemente desconfortável.
Neste momento, estou tecendo a estrutura da história. Palavras ainda me escapam como espíritos inquietos, mas logo elas se alinharão. E, quem sabe, se Caronte estiver de bom humor (ou curioso com meu enredo), serei um dos escolhidos a compor essa travessia literária.
Desejem-me sorte — ou ao menos deixem uma moeda no meu caixão editorial.
Já ia esquecendo, o edital para o concurso pode ser acessado em https://www.consultoriamedusa.com/novos-editais.
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