Você já percebeu que, nos contos, nem sempre o que assusta é o monstro? Às vezes, é o parágrafo em branco. O espaço entre duas frases. Aquele momento em que o narrador não descreve o que viu… e você começa a imaginar o pior.
Esses são os espaços vazios — não os do Word, mas os do tipo que sussurra no seu ouvido quando você está sozinho na sala às três da manhã e ouve um cloc vindo da cozinha. (Spoiler: provavelmente foi o vento. Ou não.)
Nos contos, esses vazios são cuidadosamente plantados. São como armadilhas de silêncio. Não dizem nada, mas sugerem tudo. É o autor te entregando uma caixa preta com um bilhete que diz: “melhor não abrir”. E claro, você abre — porque o leitor é curioso e masoquista em igual medida.
Esses espaços não são descuidos. São arquiteturas do pavor. É onde a história respira fundo antes de te empurrar escada abaixo. São os momentos de pausa que te deixam se perguntando: isso foi só uma sombra? Sim. Mas ela te olhou de volta.
E o mais delicioso (ou sádico) é que o terror ali não vem de mostrar, mas de insinuar. O vazio é um convite para o seu cérebro fazer o trabalho sujo. E sejamos honestos: seu cérebro é ótimo nisso. Ele pega um ruído inocente e transforma em entidade ancestral faminta por almas e miojo.
Então, da próxima vez que você estiver lendo um conto e der de cara com um silêncio narrativo, um espaço em branco, um vago “mas algo parecia errado”... não subestime. Pode ser só estilo. Ou pode ser algo olhando pra você do outro lado da página.
Boa leitura. E boa sorte com o barulho na cozinha.
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