Porque às vezes o monstro tem CPF e vota
Não, ele não flutua. Não atravessa paredes nem cospe enxofre. O monstro do qual falamos pega fila no banco, paga boleto atrasado e te deseja “bom dia” no elevador. Às vezes até se elege.
O medo do real é aquele que não precisa de neblina nem castelo gótico: ele mora no 301, dirige um carro branco e tem uma conta no Instagram onde posta frases motivacionais. Ele é educado, funcional e absolutamente apavorante.
Na literatura de terror, esse é o tipo de monstro que não precisa de próteses ou efeitos especiais. Shirley Jackson nos mostrou como o mal pode se esconder numa casa aparentemente comum. Stephen King provou que o verdadeiro terror vive dentro de gente normal. E no Brasil, o monstro costuma usar terno, discursar sobre “valores da família” e propor leis absurdas em nome da moral.
Esse tipo de criatura não desaparece com uma reza ou uma estaca no peito. Porque, veja bem… ela tem direitos civis. E enquanto você se protege do fantasma no armário, o monstro real está sentando no sofá, mudando para o telejornal e dizendo: “Esses jovens de hoje são cheios de mimimi”.
O medo do real não aparece em fotos tremidas ou em vídeos do TikTok. Ele aparece no noticiário. E no espelho, às vezes, se você não estiver prestando atenção.
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