Você gosta de frases curtas? Objetividade? Verbo direto ao ponto?
Então talvez este texto não seja para você.
Aqui, vamos abrir um sarcófago literário e desenterrar três autores que jamais mandariam um "oi, sumido" — prefeririam algo como "há muito, no silêncio oblíquo das eras, minha alma exilada ansiava por tua etérea presença..."
Estamos falando de Álvares de Azevedo, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft: os grandes mestres da linguagem rebuscada, essa arte obscura de escrever como se você estivesse morrendo, apaixonado, tendo uma visão cósmica e folheando um dicionário de 1850 — tudo ao mesmo tempo.
☠️ Álvares de Azevedo: o adolescente pálido com um crânio na escrivaninha
Imagine um jovem de vinte anos com tuberculose, café frio, poesia nos dentes e um tédio existencial que faria Nietzsche lhe oferecer um abraço. Este é Álvares de Azevedo, nosso lord Byron dos trópicos.
Azevedo não escreve. Ele delira, sussurra, suspira. Sua linguagem é feita de véus, adjetivos perfumados e um estoque de palavras que parecem ter saído de uma cartomante deprimida.
“Amo-te assim, dolente, pálida, fatigada...”(Tradução livre: ‘Você parece doente. Te adoro assim.’)
Nada é simples. Dormir vira “reclinar-se sobre as plumas do esquecimento”, e beijar é quase uma experiência pós-morte. E se por acaso você sorrir durante a leitura, fique tranquilo: ele provavelmente morreria de desgosto com isso.
🦉 Edgar Allan Poe: a alma penada que rima com "Nevermore"
Saímos do Brasil e mergulhamos nos porões úmidos da mente de Edgar Allan Poe, onde corvos recitam poesia e o amor da sua vida está enterrado atrás de uma parede.
Poe adorava palavras pomposas, sinônimos tristes e uma boa sessão de necrofilia metafórica. Sua prosa é como um veludo roxo manchado de vinho barato: bela, decadente e ligeiramente suspeita.
“And the silken, sad, uncertain rustling of each purple curtain...”(Tradução livre: ‘As cortinas se mexeram e eu pirei de vez’)
Mas atenção: Poe não era só um gótico dramático. Ele era também um arquiteto do terror psicológico, e sua linguagem rebuscada é uma espécie de hipnose linguística que te puxa para dentro do túmulo — e fecha a tampa com classe.
🐙 H. P. Lovecraft: o bibliotecário do fim do universo
Por fim, adentramos as ruínas ciclopianas da mente de H. P. Lovecraft, onde o dicionário é um livro sagrado e cada frase é um tentáculo gramatical tentando te arrastar para fora da sanidade.
Lovecraft acreditava que o verdadeiro horror não podia ser nomeado. Naturalmente, ele passava páginas inteiras tentando nomear o inominável com palavras como “eldritch”, “gibbous” e “involuntariamente inconcebível” (sim, ele escreveu isso). A experiência de lê-lo é parecida com abrir um grimório em sânscrito só para descobrir que você está lendo a bula de um apocalipse interdimensional.
“The most merciful thing in the world is the inability of the human mind to correlate all its contents.”(Tradução livre: ‘É uma bênção ser burro demais pra entender o horror cósmico’)
Se Poe é o terror da alma e Azevedo o da paixão, Lovecraft é o terror do vocabulário.
☕ Conclusão: rebuscamento é sobre estilo — e delírio
Esses três autores escreveram como quem assina um testamento: cada palavra, um suspiro. Cada adjetivo, um véu fúnebre. E a linguagem rebuscada, longe de ser frescura, era sua forma de lidar com aquilo que não cabe em frases simples: a dor, a morte, o amor impossível, os horrores do universo... e talvez uma crise existencial antes do café da manhã.
No fim, se hoje vivemos na era do tweet, eles viveram na era do epitáfio. E nós, leitores modernos, seguimos como necromantes curiosos, lendo seus textos como quem invade mausoléus em busca de joias linguísticas.
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