sexta-feira, 23 de maio de 2025

Este blog está enterrado… mas nem tanto.

Abandonei este solo infértil, rachado e seco como a pele de um cadáver exposto ao sol de mil infernos. Sim, meus caros espectros e leitores ocasionais: esta tumba virtual será selada — ao menos por ora.



Troco o Blogger pelo Recanto das Letras, onde encontrei um asilo literário repleto de outras mentes perturbadas, onde minha Persona pode vagar livre, urrando ideias febris nos corredores da insanidade criativa. Lá, há ecos que respondem. Lá, há mofo, velas tremulantes e bibliotecas onde os livros mordem de volta.

Confesso que me diverti aqui. Foi neste porão digital que arranhei as primeiras palavras com as unhas da alma. Por isso mesmo, voltarei de vez em quando — como um bom fantasma faz. Afinal, adoro criptas abandonadas, o cheiro acre da poeira ancestral, o toque pegajoso das teias de aranha na nuca e a sensação reconfortante de estar num lugar onde ninguém mais pisa, exceto os corajosos... ou os perdidos.

Se algum leitor ainda perambula por essas páginas, saiba: estou vivo — ou algo parecido — em outro canto escuro da internet. Basta seguir os sussurros.

Com necrocarinho,
Izanagui
(o autor que escreve com o tinteiro cheio de sangue seco e ironia malcurada)

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Tipos de medo #5 - Medo Cósmico

se tudo isso for inútil e ainda por cima ninguém estiver olhando?



Você olha para o céu. Estrelas. Galáxias. Bilhões de planetas. Um universo vasto, antigo, silencioso. Aí bate aquela dúvida básica: e se tudo for absolutamente inútil? E pior: e se nem tiver alguém assistindo esse desastre cósmico chamado “minha vida”?

Esse é o medo cósmico. O preferido de H. P. Lovecraft, patrono oficial do “ninguém se importa e o universo te ignora”. Aqui, não existem deuses amorosos ou finais felizes — só entidades tão grandes, tão indiferentes, que nem sabem da sua existência… e talvez seja melhor assim.

Na literatura de terror, o medo cósmico é o abismo filosófico com tentáculos. É o pavor de que a realidade seja frágil, o tempo seja um erro, e tudo que chamamos de “sentido” seja só uma distração simpática enquanto os Antigos despertam do lado de fora da compreensão.

Não tem demônio pra derrotar, nem espírito pra expulsar. Tem só a insignificância. O vazio. O silêncio intergaláctico. E você, tentando entender por que mesmo veio ao mundo se a única resposta possível é: “acidente estatístico”.

O medo cósmico não quer te assustar. Ele quer te rebaixar à escala adequada. Você é um pixel tremendo numa tela quebrada. Um sussurro no meio de um trovão que ninguém escutou. Uma piada existencial sem público.

E, pra completar, o palco é grande demais… e a luz já foi apagada há eras.




quarta-feira, 21 de maio de 2025

Tipos de medo #4 - Medo Psicológico

Aquele surto básico, patrocinado pela sua própria mente


Não precisa fantasma, demônio ou universo sem Deus. Às vezes, o terror vem do lugar mais íntimo e inescapável: sua própria cabeça. O medo psicológico é o único que não precisa bater na porta. Ele já tem a chave — e costuma redecorar tudo lá dentro.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Tipos de medo #3 - Medo Existencial

Quando você acredita que Deus pode ter saído pra fazer compras



Existe um tipo de terror que não faz barulho. Ele não arrasta correntes, não aparece no espelho nem tenta abrir a porta do quarto às três da manhã. Ele apenas… existe. Silencioso, constante, e desconfortavelmente filosófico.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Tipos de medo #2 - Medo do Real

Porque às vezes o monstro tem CPF e vota



Não, ele não flutua. Não atravessa paredes nem cospe enxofre. O monstro do qual falamos pega fila no banco, paga boleto atrasado e te deseja “bom dia” no elevador. Às vezes até se elege.

domingo, 18 de maio de 2025

Os tipos de medos #1 - Medo do Sobrenatural

Onde até os mortos fazem hora extra



Você está sozinho em casa. O relógio marca 3h33. Um vento gélido atravessa o cômodo, as luzes piscam, e um leve rangido vem do corredor. Seria o encanamento… ou a velha senhora que morreu ali nos anos 40? Bem-vindo ao turno noturno do sobrenatural — onde fantasmas, demônios e criaturas sem carteira assinada nunca pedem férias.

Nova série: Os tipos de medos

O Prazer de Temer: uma breve cartografia do horror

O medo me encanta. Ele anda de mãos dadas com meus contos, cochicha ideias enquanto escrevo e, às vezes, até rabisca sozinho umas frases pela madrugada. Mas confesso: nem sempre consigo dar a ele o palco que merece. Por isso, resolvi fazer justiça com esta singela série de postagens — uma ode à arte de se assustar com estilo.

Antes que algum acadêmico surja com uma lanterna e uma prancheta, aviso: não existe uma classificação universal do medo. Existem várias. Psicólogos falam em medos primários e secundários, psiquiatras colecionam fobias como quem coleciona selos, e Karl Albrecht montou um top 5 dos terrores universais (spoiler: envolve ser humilhado e morrer — nessa ordem, inclusive). Jungianos gostam de arquetípicos — como o medo do monstro interior, da escuridão, da autoridade, da perda de identidade... enfim, terça-feira normal.

Mas aqui não viemos pela ciência. Viemos pelo pavor estilizado, pela literatura que dá ao medo um figurino e uma trilha sonora.

Por isso, durante os próximos cinco dias, faremos uma peregrinação por cinco categorias clássicas do terror — aquelas que arrepiam mais do que boletos vencidos:

Medo do Sobrenatural – onde fantasmas, demônios e afins fazem hora extra.

Medo do Real – porque às vezes o monstro tem CPF e vota.

Medo Existencial – quando você acredita que Deus pode ter saído pra fazer compras.

Medo Psicológico – aquele surto básico, patrocinado pela sua própria mente.

Medo Cósmico – e se tudo isso for inútil e ainda por cima ninguém estiver olhando?

A partir de amanhã, embarcaremos nesse trem-fantasma com paradas estratégicas no abismo. Traga sua lanterna, seus traumas e, se possível, uma muda de roupa seca.

sábado, 10 de maio de 2025

Relato onírico 003: A Caçada Inconclusa

Diário de um Vampiro Fora da Lei – A Caçada Inconclusa



Acordei (ou deveria dizer... despertei) de um sonho lúcido tão estranho quanto um crucifixo em festa de Halloween. Eu era um vampiro fora da lei. Sim, eu, caçador das sombras, excomungado pela própria irmandade das trevas, com uma ficha mais suja que cálice de igreja em rave gótica.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Criando personagens #1: Beltrão Rolla — O Delegado Cético de Lábrea



Cidade:

Lábrea, Amazonas — Um lugar onde a floresta sussurra segredos antigos e a névoa esconde mais do que árvores.

Profissão:
Delegado de Polícia — Um guardião da razão numa terra onde o real e o impossível se entrelaçam como cipós enforcados.

Personalidade:
Cético, mas com a mente aberta para o inominável. Um homem de pés firmes no solo lamacento da lógica, mas cujos olhos já viram horrores que desafiam toda sanidade. Seu lema:
"Se não posso ver, não significa que não exista."

Histórico:

Beltrão cresceu no coração da selva, onde o vento carrega rumores de almas perdidas e os rios devolvem corpos que nunca foram vivos. Ele entrou para a polícia determinado a desmantelar os mitos que infestam Lábrea, mas a cada caso que recebe, mais próximo fica do abismo entre o delírio e o real.
De cadáveres cujas sombras caminham sozinhas a relatos de criaturas cuja forma ninguém ousa descrever, Beltrão segue anotando — e duvidando. Afinal, quando todos os sentidos falham, o que resta é apenas o eco de um sussurro.

Aparência:
Alto e robusto, ombros largos como troncos de seringueiras. Os olhos são poços escuros, eternamente vigilantes. Veste um camisa polo surrada, calça jeans azul-marinho, cinto marrom combinando com o sapato, carrega no cinto seu coldre armado, mas detesta armas. Nas mãos, um velho caderno encardido, onde anota cada caso, cada pesadelo... e, talvez, seus próprios temores.

Frase de Impacto:
"Toda história tem duas versões. A questão é: qual delas estamos dispostos a acreditar — e qual delas está nos observando de volta?"

Curiosidade:
Beltrão está sempre à caça das mesmas pistas que o repórter Jacino Rego, o cronista do inexplicável. Eles são rivais nas investigações, mas nunca se cruzam. Talvez porque um nunca pode entrar no camiho do outro.



quinta-feira, 8 de maio de 2025

A Importância da Descrição de Cenários em Histórias de Terror

Como Transformar Cenários em Monstros

A casa da bruxa Érica N’gurá — e você não vai querer se aproximar.


Esqueça aquele papo de que o cenário é só um pano de fundo bonitinho. Em histórias de terror, o cenário é aquele parente estranho que aparece na ceia de Natal e você não sabe se ele vai contar uma piada ou arrancar sua pele. É um personagem com alma própria, ainda que a alma esteja apodrecendo em algum porão escuro e esquecido.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Mais uma vitória para mim

🕯️🖤 Mais uma conquista para a estante!


Mais um conto meu foi selecionado em um concurso literário — o que só pode significar uma coisa:

as vozes na minha cabeça estavam certas o tempo todo. 😈✍️

Agradeço às entidades que sussurraram essa história no meu ouvido às 3h da manhã (e ao júri por não chamar a polícia).

Seguimos firmes, escrevendo o inominável, o estranho e o absolutamente maravilhoso.

O abismo piscou de volta... e aprovou o texto. 😌📖

Para quem quiser prestigiar a editora, segue o link do instagram: Medusa Editorial

#ContoSelecionado #EscrevendoNasSombras #LiteraturaMacabra #SombrioComHumor #MaisUmaConquista #ChamemOExorcistaMasMeDeemUmTroféu





terça-feira, 6 de maio de 2025

Apresento-vos… IZANAGUI.

 🦇 Izanagui — escritor, criatura e criatura do escritor. 🖋️



Ele saiu de um verso torto escrito à meia-noite, quando o mundo cochila e os mortos sussurram.

Desenhado pelo meu velho amigo Gepeto... também conhecido como ChatGPT.

Vestido de sarcasmo e alfaiataria sombria, ele ergue o punho não pela justiça, mas pela vitória arrogante dos que escrevem com sangue e ironia.

Olhe bem: olhos em retângulo, dentes triangulares, alma em espiral.

É a síntese do poeta decadente, do gótico com senso de humor, do autor que ri no abismo porque já se acostumou com o eco.

Este é o meu avatar. Meu espelho distorcido.

A máscara que ri por mim quando o texto escorre ácido, e que se cala apenas para gargalhar depois.

Sejam bem-vindos à minha alcova literária.





segunda-feira, 5 de maio de 2025

Let it happen - Tame Impala

E se as palavras não precisassem mais fazer sentido?
E se o som fosse mais importante que o significado?
Isso não é um poema, é um estado mental.
Uma dança de sílabas no escuro.
Peguei Álvares de Azevedo, arrastei pra uma rave psicodélica em 2042, enfiei Tame Impala no ouvido dele e deixei o coitado dançar.
Não tente entender. Sinta.



I cuh-nuh duh-wuh, you wuh-nuh scri-wih

Try-guh-duh do-wee, try to pun-stoo-wee

You wuh-nuh thinkin' that I wuh-luh do-wee

They be lovin' someone and I wuh-nuh stuh-wee

Take the next ticket to take the next train

Why would I do-wee, eh you wuh tun-tun na


I cuh-nuh duh-wuh, you wuh-nuh scri-wih

Try-guh-duh do-wee, try to pun-stoo-wee

You wuh-nuh thinkin' that I wuh-nuh do-wee

They be lovin' someone and I wuh-luh stuh-wee (baby, now I'm ready, moving on)

Take the next ticket to take the next train (oh, but maybe I was ready all along)

Why would I do-wee, eh you wuh tun-tun na (oh, I'm ready for the moment and the sound)


I cuh-nuh duh-wuh, you wuh-nuh scri-wih (oh, but maybe I was ready all along)

Try-guh-duh do-wee, try to pun-stoo-wee (oh, baby, now I'm ready, moving on)

You wuh-nuh thinkin' that I wuh-luh do-wee (oh, but maybe I was ready all along)

They be lovin' someone and I wuh-nuh stuh-wee (oh, I'm ready for the moment and the sound)

Take the next ticket to take the next train (oh, but maybe I was ready all along)

(Oh, baby) 

UM BRINDE AO MEU PRIMEIRO SEGUIDOR

 🦴 Vejam a cara do meu primeiro e único sectário.

(Sua imagem, encolhida, por questões contratuais e pactos não assinados.)



Este homem — cuja identidade permanece oculta como os nomes dos demônios antigos — ousou apertar o botão "seguir" quando tudo ainda era só névoa e promessas sombrias. (QUANDO NEM MINHA ESPOSA OUSOU ME SEGUIR)

Ele não pediu nada. Nem post. Nem conteúdo.

Apenas confiou... como um lunático ou um visionário.

Por isso, está decretado:

A cada 10 anos, quando as estrelas se alinharem e os grilos se calarem, farei uma homenagem solene ao seu gesto solitário - e solidário.

Primeiro seguidor: tu és mais que humano.
És lenda. És loucura. És o prenúncio de um culto literário ainda por nascer.

Que os outros venham — mas nunca esqueceremos que você foi o primeiro a se perder nessa alcova.

Com sangue, sarcasmo e eterna gratidão,




domingo, 4 de maio de 2025

Palavras Soturnas e Pó de Livros Velhos: A Linguagem Rebuscada de Quem Já Nasceu Morrendo

Você gosta de frases curtas? Objetividade? Verbo direto ao ponto?

Então talvez este texto não seja para você.


Aqui, vamos abrir um sarcófago literário e desenterrar três autores que jamais mandariam um "oi, sumido" — prefeririam algo como "há muito, no silêncio oblíquo das eras, minha alma exilada ansiava por tua etérea presença..."

Estamos falando de Álvares de Azevedo, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft: os grandes mestres da linguagem rebuscada, essa arte obscura de escrever como se você estivesse morrendo, apaixonado, tendo uma visão cósmica e folheando um dicionário de 1850 — tudo ao mesmo tempo.

sábado, 3 de maio de 2025

O Terror Depois do Fim: a força dos FINAIS ABERTOS

Onde o monstro não morre — ele só muda de endereço



Todo mundo adora um final feliz. Exceto o terror. O terror prefere finais... inquietos. Nada de explicações detalhadas, lições de moral ou o assassino sendo preso com trilha sonora triunfal. No terror bem feito, a história acaba com um sussurro, não com um ponto final.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Os Espaços Vazios (ou: o que o silêncio está tramando)

Você já percebeu que, nos contos, nem sempre o que assusta é o monstro? Às vezes, é o parágrafo em branco. O espaço entre duas frases. Aquele momento em que o narrador não descreve o que viu… e você começa a imaginar o pior.



Esses são os espaços vazios — não os do Word, mas os do tipo que sussurra no seu ouvido quando você está sozinho na sala às três da manhã e ouve um cloc vindo da cozinha. (Spoiler: provavelmente foi o vento. Ou não.)

Nos contos, esses vazios são cuidadosamente plantados. São como armadilhas de silêncio. Não dizem nada, mas sugerem tudo. É o autor te entregando uma caixa preta com um bilhete que diz: “melhor não abrir”. E claro, você abre — porque o leitor é curioso e masoquista em igual medida.

Esses espaços não são descuidos. São arquiteturas do pavor. É onde a história respira fundo antes de te empurrar escada abaixo. São os momentos de pausa que te deixam se perguntando: isso foi só uma sombra? Sim. Mas ela te olhou de volta.

E o mais delicioso (ou sádico) é que o terror ali não vem de mostrar, mas de insinuar. O vazio é um convite para o seu cérebro fazer o trabalho sujo. E sejamos honestos: seu cérebro é ótimo nisso. Ele pega um ruído inocente e transforma em entidade ancestral faminta por almas e miojo.

Então, da próxima vez que você estiver lendo um conto e der de cara com um silêncio narrativo, um espaço em branco, um vago “mas algo parecia errado”... não subestime. Pode ser só estilo. Ou pode ser algo olhando pra você do outro lado da página.

Boa leitura. E boa sorte com o barulho na cozinha.




Narrativa em moldura (com narrador não confiável)

 A tal da narrativa em moldura — esse truque literário antigo como os ossos de um monge mumificado — é a artimanha favorita de autores que gostam de fazer o leitor duvidar da própria sanidade. Em vez de simplesmente contar uma história de forma direta, eles preferem entregar tudo por meio de uma carta rabiscada por alguém à beira de um colapso nervoso, um diário que deveria ter sido queimado ou um relatório confidencial que “alguém” deixou cair por engano no porão de uma igreja abandonada. O resultado? Você, leitor incauto, fica se perguntando se aquilo tudo realmente aconteceu... ou se é só o delírio febril de um lunático com acesso demais a papel e tinta.

É claro que dois dos maiores adoradores desse tipo de narrativa são H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe — os príncipes da paranoia e do pavor. Lovecraft, por exemplo, em O Chamado de Cthulhu, nos convida a acompanhar um sujeito que reuniu cartas suspeitas, diários de pessoas desaparecidas e recortes de jornal esotérico para provar que uma entidade cósmica está prestes a devorar nossa insignificante civilização. Tudo isso narrado com a elegância de quem não dorme há dias e talvez esteja ouvindo vozes no escuro. Já em Dagon, outro clássico lovecraftiano, o protagonista — um veterano de guerra com olheiras do tamanho do abismo — escreve uma confissão apavorada sobre uma criatura marinha que encontrou em alto-mar. Spoiler: ninguém acredita nele, nem mesmo ele.

Poe, por sua vez, é o mestre dos narradores que juram de pé junto que estão sãos — enquanto descrevem assassinatos, obsessões e delírios com a empolgação de um vendedor de porta em porta. Em O Coração Delator, temos um homem que mata um velho só porque o olho dele o incomodava (quem nunca?), mas garante que fez tudo com total lucidez. E em Manuscrito Encontrado numa Garrafa, temos exatamente isso: um manuscrito, encontrado numa garrafa, provavelmente por alguém que pensou: “Hmmm, uma mensagem náutica vinda do além? Perfeito para o meu chá da tarde.”

No fim das contas, a narrativa em moldura é uma maneira deliciosamente tortuosa de contar histórias. Ela transforma o leitor em detetive, cúmplice e terapeuta involuntário. Você nunca sabe se está lendo um documento verdadeiro, uma tentativa de acobertar algo muito pior ou simplesmente o diário de bordo de um maluco com boa caligrafia. Uma coisa é certa: se a história começa com “encontrei isso num sótão”... prepare-se para descer junto com ela.




quinta-feira, 1 de maio de 2025

Anúncio sombrio e absolutamente suspeito

É com uma alegria duvidosa e uma pitada generosa de sarcasmo infernal que anuncio a aprovação do meu conto pela tenebrosa e insana editora Obook. Sim, essa entidade editorial de gosto duvidoso — e portanto afinadíssima comigo — resolveu publicar minha criatura amaldiçoada intitulada “A casa que me esqueceu”.


Preparem suas almas e seus colírios, pois em breve essa história maldita poderá assombrar estantes, enfeiar arquivos e talvez até mesmo provocar reações alérgicas em bibliotecas respeitáveis.

Que venham os leitores corajosos e os pesadelos inevitáveis. E que minha prateleira empoeirada, remelenta e parcialmente condenada pelo Ministério da Saúde enfim ganhe um novo troféu fúnebre.

Amém (ou não).



domingo, 27 de abril de 2025

Análise: Cânticos Calvário de Fagundes Varela

Explorando os Labirintos da Alma Romântica: Fagundes Varela e Seus Poemas de Dor Elegante

Se você acha que já viu o auge da tragédia existencial, prepare-se: Fagundes Varela veio para redefinir o conceito de sofrer com estilo. Neste post, vamos mergulhar nas camadas sombrias e dramáticas de seus versos, onde a dor não é só sentida, mas também performada como um espetáculo poético. Em uma mistura de sofrimento profundo e uma pitada de ironia, vamos explorar como os românticos transformaram a dor em arte — e como Varela, em particular, fez de suas perdas e angústias a base para algumas das mais intensas expressões de lamento já escritas. Então, pegue seu melhor traje de luto e venha conferir a tragédia sombria (mas quase teatral) de Fagundes Varela.

Uma Pequena Vitória no Meio do Caos (e da Falta de Seguidores)

Com um misto de alegria genuína e aquele assombro existencial de quem ainda não tem um seguidor sequer (um salve para mim mesmo, 27 de abril de 2025), venho anunciar: meu famigerado conto "Diário de Bordo da Central de Comando 2077" conquistou o honroso segundo lugar na antologia "Terra Devastada", da Editora Independentes!
Além da gloriosa quantia de R$170 — que, vamos ser sinceros, já tem destino certo em cápsulas de café para alimentar meus delírios criativos — essa pequena conquista sopra um ventinho encorajador nas velas furadas do meu navio de ideias absurdas.
Obrigado à editora pelo reconhecimento... e ao universo, por ainda não ter me deletado da timeline da existência.

sábado, 26 de abril de 2025

Carta a Álvares de Azevedo

CARÍSSIMO E ADMIRADISSSIMO Álvares de Azevedo,

Das profundezas do tempo — e com vinte anos a mais de poeira na alma do que Vossa Melancolia carrega — escrevo-lhe esta missiva, movido por um misto de compaixão, zombaria fraterna e uma discreta ressaca das ilusões da juventude.

Sinto-me investido da augusta autoridade de também ter sido, aos vinte anos, um miserável arruinado pelas flores murchas do amor — tal qual Vossa Senhoria, hoje, aos vossos espirituosos vinte e um.

O que me incumbe dizer talvez seja um crime contra a inspiração, pois — como rezam os bêbados e os poetas — a mais pungente beleza da arte brota das chagas da tristeza. E se, ao dizer o que direi, vossas poesias perderem metade da morbidez que as ilumina, paciência: consolo-me na esperança de salvar-vos um pedaço da vida.

Pois bem:
Sede mais ousado!
Mais insolente nas vossas paixões!
Lançai-vos como um louco faminto ao festim dos sentimentos, pois um "não" já repousa, zombeteiro, no vosso colo. O pior já é vosso por direito adquirido! Nada tendes a perder, senão as amarras da vossa tímida contemplação.

Se não conseguirdes um "sim", apenas estareis reafirmando a vossa melancólica propriedade. Mas se, por desventura das estrelas ou capricho dos deuses, arrancardes um "sim" ao coração de alguma dama — ah, então sereis, ainda que por um instante, o mais sortudo cadáver ambulante da história!

Com a negra amizade de quem já mastigou poeira e brindou à própria desgraça,

Vosso dedicado espectro,

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Microconto: a cama que era do falecido

Pouco após o entardecer de um dia indistinto, Dona Marinete, já idosa e absorta em recordações que os anos não apagaram, recolheu-se à cama de casal que por décadas compartilhara com o marido falecido. Na solidão do quarto escurecido, onde sombras pareciam mais espessas do que o habitual, adormeceu.

Mas o sono que a tomou não era reparador — era um torpor antigo, profundo, como se viesse de além das estrelas frias ou de sob as raízes esquecidas da Terra. Ela despertou, ou pensou ter despertado, e sentiu algo ao seu lado. Lentamente, virou-se — e ali jazia Seu Torquato.

Sim, ele — o vizinho morto havia mais de vinte anos, cuja presença jamais fora desejada em vida. Agora, imóvel, olhos cerrados, repousava como se jamais houvesse partido. Uma onda de horror sussurrante percorreu-lhe a espinha, não pelo cadáver em si, mas por aquilo que pairava ao redor dele — uma aura de impossibilidade, uma distorção do real.

Com a voz rarefeita por um medo ancestral, ela perguntou:

— O que o senhor está fazendo aqui?

E a resposta veio, sem movimento visível de seus lábios, como se sussurrada por uma entidade através dele:

— Eu só saio daqui... quando outro ocupar este lugar.

O quarto pareceu respirar. Um peso invisível desceu sobre o ambiente. Ela despertou com um grito silencioso na garganta — mas mesmo desperta, algo não estava certo. O lado da cama onde ele estivera parecia afundado, quente, como se algo ali tivesse repousado por horas.

No dia seguinte, sem hesitar, livrou-se da cama. Comprou um colchão de solteiro e passou a dormir num canto do quarto, afastada daquele espaço profano.

Mas nas madrugadas mais escuras, quando o tempo parece parar e o universo se curva sobre si mesmo, Marinete ouve um ranger sutil — como se as tábuas do estrado se lembrassem... como se aquilo que dorme aguardasse.

Aguardasse o próximo.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Análise: Adeus, Meus Sonhos - Álvares de Azevedo ou o Gótico Emo Original

 Agora vocês vão saber porque eu me identifiquei tanto com Álvarez de Azevedo nos idos dos meus 17 anos, não que eu fosse emo, não que eu tenha alguma coisa contra eles, mas hoje eu tenho vergonha de mim mesmo.

Então, prepare seu café mais forte, apague a luz do quarto e coloque a minha trilha sonora "Alternativa" do Spotify: vamos mergulhar nesse suspiro literário de Álvares de Azevedo, o poeta que conseguiria transformar até um parque de diversões em um velório elegante.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Relato onírico 002: Doná Diná e a casa das teias monstruosas

Visita Noturna à Mansão de Dona Diná (com um toque de aranhas e passarinhos reféns)



Hoje sonhei que estava de volta à casa de Dona Diná, a avó de dois amigos meus que já partiu dessa para uma bem mais silenciosa (espero). A casa, que já era grande nos nossos tempos de infância, agora parecia um castelo pós-apocalíptico: a fachada com seus três andares altivos e a parte de trás com dois, como se a arquitetura tivesse sido desenhada por um arquiteto indeciso. Cinco casas em uma só, porque né? Quem não quer morar com cinco versões de si mesmo?

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Relato onírico 001: Canibais no Mangue e a Catedral do Delírio

Um Mausoléu Para Meus Sonhos (e Outras Assombrações Pessoais)



Decidi fundar neste blog um mausoléu para os meus sonhos mortos. Aqui, pretendo enterrá-los com a devida pompa fúnebre — talvez até jogando umas flores de vez em quando, na esperança tola de que alguma essência se desprenda dos cadáveres oníricos e possa servir de combustível para meus contos. Ou, quem sabe, só pra não enlouquecer sozinho. (Dizem que escrever é mais barato que terapia, né?)

E, para inaugurar esta sessão necrológica do subconsciente, trago o relato de um dos meus devaneios mais recentes — uma pequena odisseia do absurdo, nascida entre o REM e o reino das trevas:

domingo, 20 de abril de 2025

Crônicas da Kripta nº1: Vampiros, Terremotos e Pauladas Divinas



Sempre fui apaixonado por quadrinhos de terror das antigas — aquelas relíquias amareladas que cheiram a mofo, nostalgia e um pouco de enxofre. No topo da minha pilha sagrada está Kripta, aquela obra-prima da RGE que assombrou as bancas brasileiras entre 1976 e 1981. Havia outras pérolas na época, claro... mas, por enquanto, estou obcecado em completar minha coleção de Kripta antes de invocar os outros demônios impressos.



E para celebrar essa jornada macabra pelas páginas esquecidas do horror pulp, começo agora uma série de dissecações — quer dizer, análises — das histórias que mais me divertem (e me inspiram a escrever as minhas próprias aberrações literárias).

A primeira vítima dessa necropsia nostálgica? Drácula, a história inaugural da Kripta nº1. Escrita por um tal Dube (provavelmente um pseudônimo amaldiçoado) e desenhada pelo brilhante Tom Sutton, com capa do nosso talentoso necro-ilustrador Walmir Amaral.

A trama é um delírio deliciosamente absurdo: Drácula chega a São Francisco em 1906, conduzido por uma sacerdotisa que, vejam só, quer converter o príncipe das trevas ao Bem (com B maiúsculo e tudo). O local era conhecido como Costa Bárbara — um caldeirão fervente de pirataria, satanismo, bruxaria e tráfico de escravas brancas. Quase um Google Maps do Apocalipse.

A coisa desanda quando uma prostituta atrai Drácula para um beco escuro — um clássico — e, prestes a receber um "beijo" nada romântico, a tal sacerdotisa surge para aplicar o juízo. Só que... bom... ela leva uma paulada acidental de uma bruxa velha e cega. Uma morte trágica, sim, mas digna de uma comédia cósmica. Antes de morrer, ela solta a profecia:
"Uma deusa não pode ser destruída sem uma terrível vingança."

E aí... a cidade treme. Literalmente. Um terremoto devastador cai sobre São Francisco. Drácula, empertigado, diz com pompa:
"Essa é a vingança de que a deusa falou!"

Ao que a bruxa, pragmática e desprovida de paciência, rebate:
"Estúpido! ... é um terremoto."

É genial. Uma sátira acidental (ou não) sobre egos imortais e forças da natureza que não dão a mínima pra mitologia pessoal de ninguém. Ainda assim, o vampirão resgata a bruxa e a prostituta e foge com elas para o único navio que sobreviveu ao desastre — porque claro, nada mais lógico.

A bordo, Drácula decreta suas vinganças com classe gótica:

  • À bruxa, que teme a morte:
    "Vais permanecer morta mais do que uma eternidade."

  • À prostituta, que teme a escuridão:
    "Vais pagar vivendo eternamente no mundo dos vampiros... o mundo das trevas!"

É o tipo de terror exagerado, dramático e deliciosamente ridículo que me faz rir alto no escuro. A morte da deusa com uma paulada é ouro puro. O roteiro caminha entre o horror e a paródia com a desenvoltura de um cadáver dançando bolero.

Os desenhos? Confusos. Cheios de sombras, riscos, texturas e expressões que variam entre o pânico absoluto e o olhar perdido de quem esqueceu o texto. Mas eu amo cada centímetro deles. São um labirinto visual que combina perfeitamente com o caos das tramas.

Fiquei tão encantado com esse festival de absurdo sombrio que estou até cogitando reescrever essa história em forma de conto — talvez ambientado no Brasil, com um toque de candomblé, um navio negreiro assombrado, e o Drácula fugindo num ferry boat do Rio-Niterói. Vai saber...

Por enquanto, deixo vocês com essa pérola gótica-trash e um convite: acompanhem as próximas análises aqui no blog. Porque rir no escuro também é um ato de resistência.

sábado, 19 de abril de 2025

Encontraram o esconderijo de Éricka Nzurá?


 

Os bravos — ou talvez apenas inconscientes — investigadores paranormais do YouTube, conhecidos no submundo virtual como Los Boy Magia, resolveram enfiar o pé na lama (literalmente) e adentrar os confins de um matagal numa zona rural que provavelmente nem o Google Maps reconheceria.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Um devaneio sombrio perdido na selva digital

Em uma daquelas noites insones — quando o sono foge e sobra só o zumbido das teorias da conspiração e o eco distante das profecias bíblicas — tive a ousadia quase profana de escrever sobre o tema. Não, não é minha área. Nem de longe. Mas como todo bom lunático que respeita sua própria insanidade, senti que precisava deixar isso registrado. Vai que, num futuro apocalíptico qualquer, alguém tropeça nesse relicário esquecido na Amazon e murmura:

"Quem foi o insano que escreveu isso? Izanagui... esse nome soa como uma maldição esquecida."

Então lá está ele: meu eBook, lançado no Kindle como quem acende uma vela num mausoléu vazio. E para minha total incredulidade (ou justiça cósmica?), no primeiro mês ele foi devorado por uma multidão... de 7 páginas. Sete. Contadas.

Se você estiver entediado o suficiente para mergulhar nesse delírio literário — e, surpreendentemente, eu achei a leitura bem divertida — aqui está o link. Mas vá por sua conta e risco. Depois não diga que não avisei.

Um dia ainda vou traduzir essa obra pro inglês, só pra descobrir se minha falta de reconhecimento é um fenômeno nacional… ou um fracasso internacional mesmo.

Pelo menos o nome do livro deveria ganhar um prêmio Nobel: 

"Criptomoeda L.I.F.E - Last Intelligence For Existence"  subtítulo "Sua vida foi monetizada".






quinta-feira, 10 de abril de 2025

Caronte, o Uber das Almas (e eu querendo uma carona)

 Numa dessas noites insones em que a realidade perde a cor e a internet vira um labirinto de promessas literárias, tropecei — felizmente, não em uma alma penada — no site Seleções Literárias. Um verdadeiro relicário para escribas como eu: apaixonados pela escrita, ligeiramente perturbados e com tendências a ver sombras onde há apenas cortinas mal fechadas.

Foi lá que avistei, cintilando como um farol no nevoeiro do submundo editorial, o concurso “Caronte”, promovido pela sempre provocadora Medusa Editorial. O tema? Uma releitura da travessia final — aquela que todos nós faremos um dia (mas com sorte, não tão cedo). A proposta é simples e deliciosamente macabra:

domingo, 6 de abril de 2025

Criação para o concurso antologia "Lendas Urbanas: E se Forem Reais?"

Certa noite, enquanto me perdia nos recantos mais obscuros da web, tropecei em uma proposta que, confesso, me arrepiou até os ossos. Um concurso de contos de terror, com a possibilidade de ter minha história imortalizada no nostálgico canal WebTV. Os anos 80 e 90 ainda vivem nas sombras do nosso imaginário, e nada mais perfeito para dar um toque de mistério e arrepios.

A descrição do concurso... bom, leia e me diga se você não sente uma leve sensação de desconforto:

"Aposto que você já ouviu alguma. Ficou surpreso? Eu também. Elas estariam no imaginário da população? Ou talvez, muito mais perto do que imaginamos? Às vezes penso que é um mistério... um bom suspense. E você, o que acha? Eu chego a crer que algumas histórias são reais, mas ao serem passadas de boca em boca, ganham uma camada de horrores adicionais. Quem conta um conto... aumenta o ponto."

E quando se fala em "aumentar o ponto", minha mente logo se perde em uma lenda urbana que já visitou os pesadelos de muita gente: A Mulher de Branco na Estrada. Uma história com mil versões, adaptada e distorcida por cada região, mas sempre com um toque de terror universal.

Agora, você me permite dar minha própria versão? Bem, segure-se, porque o que vem por aí é... inesperado.



domingo, 30 de março de 2025

Como se invoca um conto (ou: meu processo criativo em cinco estágios de loucura)

Hoje, corajoso leitor, vou abrir as cortinas empoeiradas do meu porão criativo para revelar, passo a passo, como um conto nasce — ou melhor, como ele rasteja para fora das sombras, babando ideias e soluçando incoerências.

Tudo começou com um sussurro vindo de um edital de concurso. Um tema imposto, como um pacto assinado sem ler as letras miúdas. Aceitei. (Afinal, quem precisa de paz de espírito?)

A primeira sinopse brotou num surto no celular, digitada com os polegares trêmulos no meio da madrugada. Não corrigi os erros de digitação. Eles são relíquias do caos original. Deixei-os lá, como fósseis de um pensamento primitivo — e talvez bêbado.

Depois veio a fase da dissecação: abri o texto em tópicos, dei títulos provisórios (que mais pareciam nomes de feitiços falhados) e fui enxertando ou amputando ideias com a precisão de um cirurgião sonâmbulo.

Na penúltima etapa, escrevi tudo de uma vez, sem freio, sem pudor, sem o menor compromisso com a sanidade ou gramática. Um verdadeiro ritual de possessão literária.

O texto final — aquele que talvez faça algum sentido — ficará para outro post. Por enquanto, fiquem com as entranhas expostas do processo. E cuidado ao ler à noite. Algumas ideias ainda se mexem.

***

Esboço

sexta-feira, 28 de março de 2025

Meu processo criativo

Nos recônditos insondáveis de minha mente febril, reside um impulso irrefreável: escrever (mas nem tanto). Não se trata meramente de um passatempo, mas de um ritual quase profano, no qual invoco imagens, suspiros e horrores de uma dimensão inominável. Quando rabisco minhas histórias, por um instante ilusório, sinto-me liberto das correntes vulgares da realidade, como se pudesse espiar por entre os véus da existência e tocar, com dedos trêmulos, a própria tessitura do divino. O que sinto ao escrever é análogo àquele instante primordial em que Adão, ainda na aurora da criação, percebeu o peso e a glória de ter sido moldado à semelhança de seu Criador—antes de descobrir que o paraíso, assim como a sanidade, é transitório.  

Minha predileção pelo sobrenatural não se dá por acaso. A previsibilidade da realidade me exaspera—esse eterno ciclo de dias medíocres, onde o maior mistério é decidir entre café ou capuccino. Em vez disso, deleito-me com os espaços vazios, os sussurros que não têm fonte e os vultos que espreitam na penumbra. Prefiro narrativas onde a verdade se dissolve como névoa e onde o narrador não é um guia confiável, mas um sobrevivente surrado, um lunático murmurando sua história entre soluços, ou um mero recipiente de uma carta amareladas. Quero que o leitor, ao terminar minha história, não tenha certeza de nada—exceto da inquietante possibilidade de que tudo pode ser verdade.  

quarta-feira, 26 de março de 2025

Análise: "Notas sobre como escrever ficção estranha" de HP Lovecraft

H.P. Lovecraft, o mestre das trevas literárias, compartilha sua filosofia tortuosa de como tecer histórias estranhas, uma jornada sombria que se afasta da luz do entendimento comum e se enfia nas sombras do desconhecido. Ele mergulha de cabeça no abismo da ficção de horror, onde criaturas indescritíveis e o medo cósmico governam, e revela o processo perturbador e fascinante que segue para criar essas narrativas que arrepiam até os ossos. Prepare-se, caro leitor, pois aqui está o passo a passo de como ele invoca os terrores mais profundos e as mais bizarras criações de sua mente, um ritual tão meticuloso quanto macabro:

 

terça-feira, 25 de março de 2025

Rito de início

Post inaugural. Ousadia vã: tentei abrasileirar O Corvo de Poe. Fracassei com estilo, espero.


O Corvo e a Noite

Numa noite fria e escura, enquanto o mundo adormecia,
Eu vagava entre os livros, onde a mente se perdia,
Mas eis que um ruído estranho rompe o torpor da solidão,
Um bater de asas negras — sonho? Ou maldição?

Levantei-me, trêmulo e pálido, fitando o vão sombrio,
E lá, sobre a porta, como um espectro frio,
Vejo a ave funerária — corvo negro e desalmado,
Com olhar de quem conhece o que é sofrer calado.

"Que buscas na minha noite? Que mistério em ti se faz?"
E a ave, como sentença, apenas disse: "Nunca mais."

Ah, palavra amarga e fria! Gume cruel do destino,
Que corta o peito em sombras como lâmina do divino!
"Não há trégua para a dor? Não há cura para amar?"
Mas o corvo, impassível, volta a murmurar:

"Nunca mais!" — disse ao vento, como um triste adeus final,
E deixou-me ali sozinho, prisioneiro do meu mal.

Ainda o vejo sobre a porta, com seu peso de agonia,
Como a morte que vigia a última luz do dia.